segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Nem só de nostalgia é a vida


É impossível, pra mim, ouvir The Doors e não ser invadida por uma nostalgia do século passado.
The Doors não é uma banda que eu ouvia e acompanhava mas meus amigos, (gente que amei e outros que amo até hoje), tinham uma conexão muito grande com eles.
Queria conseguir traduzir o que é The Doors pra mim... a banda que não ouvi mas que me tocou.
Meu amigo-irmão é muito Jim Morrison e a ele associo um misto de cinza, tristeza, e um vermelho intenso por vida e tudo o que pulsa.
As músicas de The Doors me dão saudade de um amor antigo, dono de olhos cinzas que me encantaram na saída de um show de Ozzy Osbourne.
Daquele impulso juvenil sem amarras mas com lugar especial, da química explícita e reconhecida que direcionava o afeto, dos abraços sinceramente trocados e das infinitas possibilidades de amor e sexo idilicamente vividos. Um desejo de pegar no telefone e ligar pra 1996. Ser atendida pela festa de aniversário da antevéspera de Natal, momento de encontrar todo mundo que voltava pra casa, vários rapazes sensíveis, uma turma ligada à filosofia, à política, às artes. Conversas que duravam horas flertando com a poesia inglesa, celta e riffs de guitarras de bandas dos anos 70.

Is this the end, my beautiful friend??

Será que foi o fim e não percebi que o filme acabou??

que não há animais alados, todos pegaram a estrada de brumas e não foram vistos por olhos tributados?

que a dança livre, com flores no cabelo, em frescas madrugadas, não passam de memórias do que não aconteceu?
um delírio
nada febril.

um delírio do peito aberto, rasgado, violado e reconstruído sem que tenha deixado letra como rastro.

dança-ciranda, take a chance!
pés descalços
cabelos ao vento,
saia em brisas
pele em brasa
peito-ânsia
tanta solidão à espreita

is this the end, my only friend?
dói.
Tudo o que não foi, dói.
tudo o que foi, foi absorvido pela pele, poros, alma
imprimiu caminhos, sulcos e expeliu força e luta.

1995, o ano em que o rock organizava a vida e o amor bateu à porta, num verão de pauliceia descarada. O ano em que Morgana andava pelas ruas, cruzando a noite fria, de ninho a ninho, enrodilhada em abraços sagitarianos, línguas escorpianas e prosas taurinas.

2019 é o ano de segurar tudo e soltar o ímpeto de liberdade, tão rock and roll.


 

sábado, 7 de maio de 2016

Tempo

Tempo é divindade,
é rei.
É sábio.
Ele ensina.
Ele machuca.
Inexato porém de grande precisão
ele consome
tempo
almas
e alimenta ansiedade
queixas
e incompreensões.
Tempo é desafio,
é poesia.
Tempo anda
Tempo faz
Tempo espera
Tempo acontece
Tempo revigora
Tempo reorienta
Tempo gira.
E diante de tantos tempos,
não entendo,
porque pra algumas situações ele me é abundante
e pra outras...
ah... pra outras ele é tão rarefeito.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Estiagem

Presidente Figueiredo/ AM
Ele levou embora as águas.
No retorno perguntou se fiquei incomodada com a fuga.
Não me incomodei.
Doeu. Doeu muito.
Foi uma estiagem.
Ele está de volta. Com as águas, os sabores, as delícias!
Enquanto me tratar bem e com verdade, será bem acolhido!

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Mais água

Ele trouxe mais água,
me inundou.
Uma semana depois consegui pôr meus pés no chão.
Respirei.
Me redescobri forte.
Empoderada.

Mexi no baú.
Outra trombada.
Percebo que o tempo passou,
a vida seguiu.
Meu sono se acalmou e já não sou uma pequena ninfa.
Ninguém à minha porta.

O telefone tocou e, mais uma vez,
sem chão fiquei
Desta vez não pela água que ele trazia.
Por algum motivo que ainda desconheço
Muito barulho no silêncio dele.

Ele se foi, quer silêncio.
A história chegou ao fim
e, ironicamente, ainda assim ela me ensinou.

Agora chove...
chuva, tempo...
plantar, colher...
e que venha o tempo,
rei como sempre!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Água, água...

Ele chegou, lindo... vi o homem maduro e, no sorriso, no brilho do olho, o menino de 15 anos que eu conheci no século passado.
Dia quente, caminhamos no bairro. Chegamos em casa e a sede era imensa.
O desejo também.
Vontade de sentar no colo dele, abraçá-lo, sentir o cheiro dele e matar minha sede ali.
A conversa flui, quero ver a noite chegar ao lado dele mas descubro que só tenho mais meia hora pra tudo.
Quero água, quero muita água. Sinto sede, saudade e uma vontade de sair do chão.
Ele aceita meu convite, a gente vai pro chuveiro.
Ele é cuidadoso, tira meu vestido. Eu quero fazer como criança quando está diante da piscina: arrancar a roupa de qualquer jeito, segurar a mão dele e me jogar embaixo d'água.
A gente chega lá... o cheiro dele está tão suave.
Suas mãos, firmes me abraçam, me seguram e sinto meu corpo se abrir para ele. Há um desabrochar em cada pedaço da minha pele, meus poros se abrem e eu quero este homem dentro de mim, com toda a água correndo.
Muita água, muita sede.
O beijo molhado, a mão firme.
A temperatura não sobe mais porque a água equilibra o calor que sinto.
Não penso em mais nada! só quero este homem na minha boca, não faço questão de mais nada, exceto de saboreá-lo, de sentir a textura da pele dele...
Penso em como ele é bonito, como é doce, como é forte.
Não quero nada.
Não quero sentir as mãos dele em mim.
Não quero senti-lo dentro de mim.
Quero que ele volte, com tempo.
Tempo pra que eu possa fazer tudo, inclusive o que não fiz.
E fazer com mais capricho o que já fiz.
Quero que ele seja livre, que faça tudo o que quiser fazer mas que venha pro meu peito, que me traga sua água, seu cheiro, sua força.
A presença dele me movimenta, movimenta minhas águas e faz jorrar mais água da minha nascente.
E tudo isto me faz feliz.


quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Velhos sapatos em novos caminhos

Eu vi a covardia de um homem e ela me feriu.
Me trouxe vida, mas me levou tanta coisa...
Me fechei, desconfiei e rejeitei  tudo o que vinha no conteúdo masculino.
Daí levei uma trombada. O passado me encontrou e me trouxe para um presente.
Jamais imaginei nada disto.
Um homem determinado, que cumpre com o que se propõe e que realmente gosta de mulher.
Tudo diferente mas cheio de sintonia.
Em algum momento concluí que ele estava lendo meu pensamento.
Ele sabia a carícia que meu corpo pedia.
Ele soube percorrer meu corpo, há muito não tocado, com destreza e calor.
Este homem me ajudou a ver como realmente estou hoje.
Aflorou meu desejo, minha contemplação e pude ver beleza no corpo masculino.
Percebi que a ferida se tornou uma cicatriz. Não sangra mas é bem perceptível.
Nas mãos deste homem, um homem de águas profundas, não me lembrei de nada disto.
Não lembrei das cicatrizes, das feridas, da desconfiança.
Ainda que eu fizesse silêncio, ele me lia.
Soube ler meu corpo, minha respiração, meu suspiro.
Não me julgou, não me acelerou, não me subestimou.
Entendeu que eu não posso lidar com a mentira ou a omissão.
E me trouxe tanta intensidade... em tudo! Meu corpo pediu por este homem, vindo das águas profundas, o tempo todo...
meus fluídos responderam à presença dele e, embora meu coração não esteja buscando romance, está embriagado de afeto, ternura e gratidão.
Me senti viva, completa, complexa e feliz.
Que venha a nova fase! estou mais pronta e, o que falta, vou acertando pelo caminho.
Já me sinto segura pra isto.
E, muito, mas muito satisfeita como raramente eu fiquei.


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Tempo

Mais uma vez ele se mostra Rei.
Valeu à pena esperar.
Valeu à pena ficar recolhida.
Valeu à pena desejar mudar.
A maternidade trouxe tantas questões... agora, 3 anos depois do parto, momento em que nasceu a mãe, a mulher se revela.
Sob o toque firme e atento de um escorpiano, me senti Vitória Abril num filme de Almodóvar.
Entre boas risadas, suor e muita franqueza, renasci.
Que este seja o espírito daqui pra frente.